A estria-vermelha é uma doença que tem se mostrado um grande desafio para a cultura da cana-de-açúcar no Brasil, impactando diretamente a produtividade das lavouras. 

Causada pela bactéria Acidovorax avenae, a doença se manifesta em diversas regiões canavieiras, principalmente em áreas onde as condições climáticas favorecem sua proliferação.

A doença tem chamado atenção tanto de pesquisadores quanto de produtores, devido ao seu potencial de causar grandes perdas na produtividade da cana, uma das culturas mais importantes para a economia brasileira. 

Com o aumento da incidência dessa doença nas principais regiões produtoras, torna-se essencial aprofundar o conhecimento sobre os seus sintomas, os danos que pode causar à lavoura e as estratégias de manejo que vêm sendo aplicadas para minimizar seus impactos. 

Além de explorar os aspectos técnicos da doença e do patógeno, este texto aborda as principais práticas adotadas para o controle da estria-vermelha e a importância do monitoramento constante das plantações.

Cenário da estria-vermelha no Brasil

O Brasil é o maior produtor mundial de cana, responsável por grande parte da produção global de açúcar e etanol. No entanto, a estria-vermelha tem se tornado uma preocupação crescente, especialmente nas últimas décadas, com a incidência em diversas regiões do país. 

A doença já foi identificada em diversos Estados e suas consequências são alarmantes: perda de vigor da planta, redução na quantidade de colmos e, consequentemente, menor produtividade.

Em termos de prejuízos, a estria-vermelha pode resultar em perdas significativas em áreas severamente afetadas. Além de comprometer o rendimento, a doença aumenta os custos de produção, uma vez que demanda maior atenção no manejo e pode exigir maiores gastos com mãos de obra e maquinários. 

Visando controlar corretamente essa doença, é de extrema importância conhecer os sintomas mais comuns do patógeno no canavial.

Sintomas da estria-vermelha na cana-de-açúcar

O diagnóstico precoce da estria-vermelha é fundamental para mitigar seus efeitos. Os primeiros sintomas geralmente aparecem nas folhas da cana-de-açúcar, na forma de estrias longas e finas, de coloração vermelha ou marrom, paralelas às nervuras. 

Essas estrias podem ser observadas na lâmina foliar, normalmente na parte mediana inferior e, em casos mais severos, podem se expandir para o topo do colmo, levando à morte dos tecidos e comprometendo o desenvolvimento da planta.

Ao atingir o topo do colmo, o sintoma é comumente chamado de podridão do colmo. Com o progresso da doença, esse dano pode se estender para o restante do órgão, ocasionando rachaduras que liberam um líquido de odor desagradável.

Os sintomas são observados normalmente em plantas mais jovens, de quatro a seis meses.

A progressão dos sintomas varia conforme as condições ambientais e o manejo aplicado na lavoura. Em regiões com alta umidade do ar (maior que 90%) e temperaturas mais elevadas (acima de 28 °C), a doença tende a se espalhar mais rapidamente, agravando seus efeitos sobre a planta.

Características do patógeno

O agente causal da estria-vermelha, Acidovorax avenae, é uma bactéria e a infecção ocorre principalmente por meio de ferimentos na planta, como cortes provocados durante a colheita ou danos causados por insetos. Além dos ferimentos, o patógeno pode contaminar a cana por meio dos estômatos das folhas.

Uma vez dentro do hospedeiro, a bactéria começa a se multiplicar rapidamente nos tecidos vasculares da planta, gerando os sintomas característicos.

A dispersão do patógeno pode ocorrer de diversas formas, sendo a água e o vento os principais vetores. Chuvas intensas e irrigação por aspersão podem facilitar o movimento da bactéria entre as plantas, enquanto o vento pode transportar partículas infectadas para áreas próximas.

Conhecer as características do patógeno Acidovorax avenae, assim como as condições ideais de proliferação, é essencial para implementar um Manejo Integrado de Doenças (MID) eficaz, pois permite identificar os momentos críticos para a aplicação de medidas preventivas. 

Manejo Integrado de Doenças (MID)

O MID é uma estratégica abrangente que combina diferentes estratégias de controle para minimizar os danos causados por patógenos, como a Acidovorax avenae. Esse controle prioriza o uso de práticas culturais, controle biológico, químico e o monitoramento constante da lavoura.

A integração de diferentes métodos apresenta diversas vantagens, entre elas a redução dos custos de produção e dos danos potenciais do patógeno. Além disso, o MID promove a sustentabilidade agrícola, pois valoriza todos os integrantes do sistema agrícola.

A seguir, falaremos da etapa de monitoramento e dos tipos de controle disponíveis no MID.

Monitoramento e identificação do agente causal

O monitoramento constante dos canaviais é uma das ferramentas mais eficazes no combate à estria-vermelha. A identificação precoce dos sintomas permite que os produtores adotem medidas de controle antes que a doença se espalhe por grandes áreas, evitando perdas significativas de produtividade.

Técnicas de monitoramento envolvem inspeções regulares das plantas, principalmente em períodos de alta umidade e temperaturas elevadas, quando a doença tende a se manifestar com mais intensidade. 

Além disso, o uso de tecnologias, como drones e sensores, pode auxiliar na identificação de áreas infectadas de forma mais rápida e precisa.

A correta identificação da doença também é fundamental, já que os sintomas da estria-vermelha podem ser confundidos com outras doenças da cana-de-açúcar. Nesse sentido, o suporte de laboratórios especializados na análise fitopatológica é essencial para a confirmação do diagnóstico.

Métodos de controle da estria-vermelha

Controle cultural

A rotação de culturas, quando possível de ser aplicada, é uma estratégia eficiente para reduzir a pressão de inóculo do patógeno. Além disso, o uso de variedades de cana-de-açúcar mais tolerantes à estria-vermelha pode minimizar a disseminação da doença.

Outro aspecto importante é o manejo adequado da irrigação. A irrigação por aspersão, quando não bem manejada, pode facilitar a disseminação da doença entre as plantas. 

Controle biológico

O controle biológico é uma estratégia que utiliza organismos vivos para combater pragas e patógenos, promovendo um equilíbrio natural no ecossistema agrícola. 

No caso da estria-vermelha, embora esse método ainda não seja amplamente utilizado no campo, ele apresenta grande potencial para o manejo sustentável da doença. 

Microrganismos antagonistas, como bactérias benéficas e fungos, podem inibir o crescimento de Acidovorax avenae, competindo por espaço e nutrientes ou produzindo substâncias que impedem a proliferação da bactéria causadora da estria-vermelha.

Embora ainda esteja em fase experimental, o controle biológico tem mostrado resultados promissores e pode se tornar uma importante ferramenta no MID da cana-de-açúcar, incluindo a estria-vermelha. Sua adoção futura no campo dependerá do desenvolvimento de tecnologias que viabilizem a aplicação em larga escala, oferecendo aos produtores uma alternativa sustentável e eficiente para o controle dessa doença.

Controle químico

O controle químico da estria-vermelha, embora menos frequente, pode ser necessário em casos de infecções severas. O uso de bactericidas deve ser feito de forma preventiva, pois uma vez instalada, a doença é difícil de controlar. 

A aplicação de produtos químicos deve ser realizada no início do ciclo da cultura ou logo após a detecção dos primeiros sintomas.

Uma das melhores práticas no controle químico é a rotação de moléculas, evitando o uso repetido de um mesmo princípio ativo, que pode levar à seleção do patógeno resistente. 

É importante também que os produtores sigam as recomendações técnicas de técnicos e engenheiros-agrônomos, que podem indicar o momento e a dose correta dos produtos a serem aplicados, proporcionando melhor eficácia do produto no campo.

Prevenção e controle a longo prazo

A prevenção é sempre o melhor caminho quando se trata do controle da estria-vermelha. Os produtores devem adotar uma postura proativa, implementando medidas preventivas, como o plantio de variedades mais tolerantes e a eliminação de materiais infectados ainda nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura.

O uso de materiais genéticos certificados e a prática de desinfecção de equipamentos agrícolas também são medidas essenciais para evitar a contaminação e a disseminação da doença entre talhões.

Ações para mitigar os impactos da estria-vermelha

Diante dos desafios impostos pela estria-vermelha, é imprescindível que os produtores estejam sempre atualizados em relação às novas tecnologias e práticas de manejo

A pesquisa científica tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar resistentes à doença e na criação de defensivos agrícolas mais eficientes e sustentáveis.

Além disso, o fortalecimento de parcerias entre produtores, pesquisadores e empresas do setor agrícola tem sido crucial para o avanço no controle da estria-vermelha, resultando em práticas mais eficazes e de menor custo.

O futuro do manejo da estria-vermelha na cana-de-açúcar

A estria-vermelha continuará sendo um desafio para os produtores de cana nos próximos anos, especialmente em um cenário de mudanças climáticas que favorecem o desenvolvimento de patógenos. 

No entanto, o avanço nas pesquisas e o aperfeiçoamento das técnicas de manejo integrado oferecem uma perspectiva positiva para o controle da doença.

O MID será uma ferramenta indispensável no controle da estria-vermelha nos próximos anos, combinando diferentes métodos de manejo para minimizar a propagação da doença de forma eficiente e sustentável. 

Com essa estratégia, os produtores podem reduzir a pressão de inóculo do patógeno e aumentar a resiliência das lavouras a longo prazo. O uso contínuo do MID, aliado à constante atualização tecnológica, será essencial para garantir o sucesso no combate à estria-vermelha em um cenário de agricultura cada vez mais exigente e sustentável.